16.3.06

Vida Boa

Ele concentrado na leitura. Ela começa...

Ela: Sabe de uma coisa, César? A vida é uma coisa boa. Tudo bem, ela possui os seus altos e baixos. Recheada de imprevistos e de coisas insignificantes e pequenas às quais denominamos problemas. Mas a vida é boa. Olha só pra gente... eu e você, aqui. Não te dá uma sensação de tranquilidade, de calma, de paz? A nossa vida boa e banal e que é nossa. A nossa história que o amor escreve. É... o amor faz a nossa vida boa. É isso. Você não acha, César?
Ele: ...
Ela: César?
Ele: Hein?
Ela: Você não acha?
Ele: Acho o quê, amor?
Ela (emputecida): Nada.
Ele: Fala, amor.
Ela: Na-a-da.
Ele: Luiza, fala comigo.
Ela: Vão tomá no cú, você e esse seu livro.

10.3.06

Água e açúcar

Ele (animado): Oi.
Ela (desanimada): Oi.
Ele: E aí, como foi seu dia?
Ela: Ahn?!
Ele: Perguntei como foi seu dia.
Ela: Ai, César. Você quer mesmo conversar? Eu tô tão cansada. O dia de hoje foi uóóó... aquela merda daquele escritório... tudo o que eu faço sendo criticado... gente convencida por todos os lados... ai!
Ele: Ih, o que aconteceu?
Ela: Nada, César. Me deixa dormir.
Ele: Vem cá, Luiza. Você está muito estressada.
Ela: Eu estou. Eu tô com muita coisa na minha cabeça.
Ele: Quer uma água com açúcar?
Ela: Hein?
Ele: Água com açúcar.
Ela: Pra quê?
Ele: Ué... pra quê? Pra te acalmar.
Ela: Mas por que água e açúcar?
Ele: Sei lá. Dizem que é bom em estados de nervosismo como o seu agora.
Ela: É?
Ele: É. E evita colapsos mais fortes.
Ela (preocupada): Ai, César. Você acha que eu tô ficando louca?
Ele: Não, só estou te oferecendo um copo d'água com açúcar.
Ela: Por quê?
Ele: Ah, meu Deus. Porque eu me preocupo com você.
Ela: Ai, amor. Que lindo.
Ele: Viu só, querida. Vou lá pegar pra você.
(...)
Ele: Tá aqui, amorzinho. Você tá melhor?
Ela: Tô. Obrigada, meu bem.
Ele: Nada, amor.
Ela: ...
Ele: ...
Ela: Lá no escritório ninguém me ofereceu água com açúcar.
Ele: Uhn...
Ela: Será que ninguém naquele lugar se preocupa comigo?
Ele: Ai...
Ela: Eu trabalho feito uma mula naquela merda de lugar e nem sequer mereço atenção.
Ele: ... meu...
Ela: A escrava aqui é só um pontinho de cocô no meio daquele mar de bosta.
Ele: ... Deus!
Ela: O que eu quero dizer é, porra, cadê o reconhecimento?

6.3.06

Noite de Gala


Domingo a noite. Oscar 2006 na TV.

Ela: Acho lindo tudo isso.
Ele: Isso o quê?
Ela: Tudo. A cerimônia, os vestidos, as estatuetas... os atores.
Ele: O comercial já acabou.
Ela: Quem será que vai ficar em primeiro lugar, hein?
Ele: Que primeiro lugar, Luiza? Oscar não é gincana, não.
Ela: Ah, não. E como é?
Ele: São várias categorias e muitos vencedores.
Ela: Ah, tá. E porque a Gueixa e o King Kong tão ganhando tudo? Tem uma espécie de bônus nessa brincadeira?
Ele: Fica quietinha e assiste, meu bem.