31.10.06

Me, myself and Youtube

(Para Daniel Sakê Tcheba Madureira, porque você faz valer a pena!)

Dois semi-nus em cima da cama.

Ele: Luiza.
Ela (zapeando os canais da TV): Oi.
Ele: Vamos fazer de novo?
Ela: Ai, César. Não quero mais não.
Ele: Só mais uma vez.
Ela: Não. Tô cansada. Chega.
Ele (animado): Vamo, vai. Só mais uma. Depois eu não te peço mais.
Ela: Eu disse "Não", porra.
Ele: Porra, Luiza.
Ela: Ai, que saco. Tá bom, mas é a última vez, hein?
Ele: Tá.
Ela: ...
Ele: Mas tem que fazer daquele jeito, que nem da outra vez... tem que fazer direito.
Ela: Tá, tá bom.
Ele: Vai... começa então.
Ela: Você começa.
Ele: Ah, tá...
Ela: ...
Ele: "Wanna a strawberry? You can't have it!"* (*Quer um morango? Você não pode ter!)
Ela (faz cara de choro): "But I wanna have it..."(Mas eu quero...)
Ele: "You're a stupid little baby there!" (Você é um bebê estúpido!)
Ela (chorando): Ohoho... "I'm not stupid!" (Eu não sou estúpido!)
Ele: "Yes, you are." (Sim, você é.)
Ela (gritando): "I'm not!!" (Eu não sou!!)
Ele (rindo): "Yes, you are!" (Sim, você é!)
Ela: "I'm not stupid!... I'm not stupid!" (Eu não sou estúpido!... Eu não sou estúpido!)
Ele (ri): ...
Ela (joga ele da cama): Pronto. Tá feliz agora?
Ela volta pra TV enquanto ele morre de rir, esticado no chão do quarto.

27.10.06

Chatuuuuu!

Ela recém-saída do banho, passando creme nas pernas, limpando os poros do rosto... enfim, um ritual já conhecido de muitas noites. Ele a observa.

Ela: ...
Ele (encarando a esposa): ...
Ela (olha pra ele): ...
Ele (senta do lado dela): ...
Ela: Que foi?
Ele: Luiza, você já reparou o quanto você é insuportável?
Ela: Por que essa pergunta, César?
Ele: Não... é que eu não entendo.
Ela: Não entende o fato de eu ser insuportável?
Ele: Não, o que eu não entendo é o fato de que você sabe que é insuportável e não faz nada pra mudar.
Ela: Pra que eu iria querer mudar?
Ele: Pra gente viver mais harmoniosamente.
Ela (ri): ...
Ele: Qual a graça, agora?
Ela: Você já reparou o quanto esse seu assunto é que é chato, César?
Ele: Mas é necessário.
Ela: Necessário, o cacete. Você tem uma síndrome. Essa é que é a verdade.
Ele: Síndrome?
Ela: É. Você foi criado por uma alcoólatra cleptomaníaca e por um corretor da bolsa agorafóbico. As brigas e disputas as quais você foi exposto lhe trouxe esse dom, essa psicose de querer viver harmoniosamente dentro do casamento a cada segundo. Isso é um saco.
Ele: ...
Ela: ...
Ele: Tá vendo como você é chata.
Ela: Ai, César. O que você quer de mim, hein?
Ele (analisando o físico dela): ...
Ela: Além das minhas coxas...
Ele: Nada... você não entende.
Ela: Então me fala.
Ele: Nada, esquece.
Ela: Não vai falar mais comigo?
Ele: ...
Ela: Voltamos aos 12 anos?
Ele: ...
Ela: Há quanto tempo somos casados?
Ele: Cinco anos e meio.
Ela: Você quer pedir a anulação?
Ele: Já é tarde.
Ela: Quer o divórcio?
Ele: Não.
Ela: Quer uma amante? Olha que eu conheço umas mulheres maravilhosas e um pouco menos insuportáveis.
Ele: Engraçadinha.
Ela: Não?
Ele: Não.
Ela: Então, se me der licença...
Ela passa a mão cheia de creme no rosto dele e apaga a luz para dormir.

23.10.06

30...!

Ela entra no quarto e o encontra pulando na cama, com uma corneta na mão e uma garrafa de vodka, pela metade, na outra.

Ela: César...
Ele: Amooorr... meu amooor!
Ela: O que você tá fazendo?
Ele: Amooorr... Luiza... vem!
Ela: César, cê tá maluco?
Ele: Felicidade... o mundo é perfeito!
Ela: Nota-se pela quantidade na garrafa.
Ele: Quer um gole?
Ela: César, ainda são duas da tarde.
Ele: Eu sei. Quer um gole?
Ela: Não... César, o quê é isso? Você sempre me repreende por migalhas no edredom, agora tá quase arrebentando o estrado.
Ele (soprando a corneta): Trinta, Luiza. Trinta!
Ela: Trinta o quê, meu bem?
Ele: Trinta publicações sobre a nossa vida naquele blog que você odeia.
Ela: Grande merda.
Ele: Já é alguma coisa, benzinho.
Ela: E daí, "benzinho"? A gente ganhou alguma coisa com isso?
Ele: Ué, reconhecimento, amor.
Ela: Reconhecimento da onde, César?
Ele: Você mesmo disse uma vez que uma mulher te parou na rua por causa de um texto do blog, lembra? Ela queria saber o nome daquele adesivo que você usa pra abortar...
Ela (tirando os sapatos): Nossa, você ainda não entendeu a história do adesivo, né?
Ele (meio bêbado): Luiza, vamos comemorar, amorzinho.
Ela: Ai, César. Não vejo isso como motivo pra festa.
Ele: Pô, é o nosso casamento. Nossas alegrias e tristezas durante cinco anos juntos. Nosso altos e baixos. Nossa intimidade, nossa vidinha singela.
Ela: Eu odeio vidinha singela.
Ele: Nossas transas...
Ela: E nossas "faltas de transas" também.
Ele: Então, amor. É nossa vida, cara. Vamo... vamo... vamo celebrar.
Ela (pensando em tudo o que ele disse): ...
Ele: Hein?
Ela (bufando): Me dá um pouco dessa vodka então, vai.

19.10.06

Falha Nossa

Os dois nus, debaixo do lençol, sentados na cama.
Ele: ...
Ela: ...
Ele (raivoso): ...
Ela: César.
Ele (ligeiro): Não fala nada, Luiza.
Ela (compreensiva): Amor...
Ele (interrompe): Não vem me crucificar, não... você também é culpada.
Ela: Como assim?
Ele: Isso nunca me aconteceu antes.
Ela (com um sorrisinho irônico): Tá.
Ele: Que foi?
Ela: Nada.
Ele: ...
Ela: ...
Ele: Tem coisa sim.
Ela: Nada, amor.
Ele: Ué, Luiza. Vai ficar escondendo as coisas de mim.
Ela: Putz, depois sou eu a psicopata.
Ele: Fala.
Ela: Ai, César.... é mentira.
Ele: O quê?
Ela: É mentira sua.
Ele: O que é mentira?
Ela: Isso... de que é a primeira vez que isso te acontece.
Ele: Por quê? Já aconteceu antes?
Ela: Comigo?? Só umas doze vezes.
Ele (envergonhado): Você contou quantas vezes eu falhei na cama?
Ela: Contei. Contei todas. Doze. E eu tô falando das vezes que você falhou enquanto tentava alguma coisa... não tô contando com os momentos em que você nem se quer manifestou o Mestre dos Magos frente a minha Caverna do Dragão, meu bem.
Ele: Caverna do Dragão? Isso é coisa da Selma, não é?
Ela: Não, isso é coisa sua. Você me ensinou essa expressão numa dessas suas falhas.
Ele: Eu devia estar bêbado.
Ela (bem-humorada): Você estava apaixonado, meu bem... e um pouco "broxa" também.
Ele: Só um pequeno detalhe.
Ela: Concordo.
Ele: Eu tô falando da piada, Luiza.
Ela: Eu também.
Ele: ...
Ela (se joga em cima dele): E aí, quer tentar de novo?
Ele: Você se importa de esperar um pouquinho?
Ela: Não. Por quê?
Ele: Eu queria tentar me recompor.
Ela (ri): Coisa de boiola, hein, César.
Ele: Vai me ajudar ou não?
Ela (ainda rindo): Vou, mas eu vou lá na cozinha comer alguma coisa enquanto você tenta reavivar a serpente doente, aí.
Ele: Esse tipo de comentário sobre meu pinto não vai ajudar nada no estímulo.
Ela (perde o bom humor): Ai, César. Como você é chato. Tudo o que eu falo é ofensa.
Ele (se indigna): Você não tá colaborando!
Ela (se indigna): Eu?
Ele: É. Fica com piadinhas, trocadilhos e risinhos aí...
Ela: Eu tô tentando descontrair, sei lá, ver o lado positivo da situação.
Ele: Lado positivo. Que lado positivo essa situação tem, menina?
Ela (se emputece): Meniiiina?
Ele: ...
Ela (escandaliza): Quer dizer que você tá com essa minhoca em estado de coma aí, enquanto eu, em estado de "me coma" aqui, não estou colaborando. É isso?
Ele: Quer saber? Eu é que vou pra cozinha.
Ela: Vai. Vai sim. Quem sabe lá, você consegue comer alguma coisa!
Ele pula em cima dela.

10.10.06

Momentum 4.8

Dois na cama. Hora da Leitura... interrompida pelo pensamento.

Ela: Sabe o que eu tava pensando?
Ele: Hum...
Ela: A xoxota da mulher, quando tá naquele esta...
Ele (interrompe, num ar político): Não, Luiza... agora não.
Ela: ... é... tá.

E voltam a leitura.

1.10.06

Troca de Papéis 2

Ele batucando numa caixa de sapatos. Ela pintando as unhas dos pés.
Ele (cantando): "Um velho calção de banho, um dia pra vadiar..."
Ela (sorri): ...
Ele: "... um mar que não tem tamanho"... Pô, Luiza, a gente bem que podia pegar uma praia amanhã, hein?
Ela: É mesmo, né?
Ele: Faz um tempão que a gente não vai à praia.
Ela (abrindo um vidrinho de esmalte): Porra, faz mesmo, né?
Ele: Então?
Ela: O quê?
Ele: Como o quê, amor? Praia, amanhã?
Ela (soprando o esmalte da unha): Vamo, amor. Vamo sim.
Ele: A gente pode chamar a Ana Maria com o Tadeu pra ir com a gente.
Ela: ...
Ele: Vou ligar pra eles. Tem o telefone deles?
Ela: De quem?
Ele: Do Tadeu e da Ana Maria.
Ela: Qual telefone você quer? Do Tadeu ou da Ana Maria?
Ele: Da casa deles, ué.
Ela: Eles se separaram, César.
Ele: O Tadeu?
Ela: É.
Ele: E a Ana Maria?
Ela (borra a pintura): Ai, merda... éééé César. O Tadeu e a Ana Maria... se separaram, ué.
Ele: Poxa, um casal tão feliz. Viviam na casa dos meus pais, fazendo festas...
Ela (indiferente): Pois é.
Ele: Como é que você soube disso?
Ela: Sua mãe.
Ele: Sei.
Ela: ...
Ele: Vem cá. E a praia?
Ela: Que tem a praia?
Ele (já meio estressado): Amanhã, Luiza!
Ela: Vamo, amor. Vamos sim.
Ele: E quem a gente vai chamar?
Ela: César, pega esse vidrinho de acetona aí que tá do seu lado.
Ele: Toma.
Ela (volta a atenção para os pés): ...
Ele: Hein?
Ela: Oi.
Ele: Quem a gente vai chamar?
Ela: Pra praia?
Ele (bufa): É.
Ela: Caralho, César. Vamos nós dois, ué. Precisa de mais alguém?
Ele: Ué, não?
Ela: Nossa, a minha companhia é tão ruim pra você querer chamar outra pessoa, assim tão desesperadamente?
Ele: Não, amor. É que eu queria um final de semana para relaxar, curtir o sol... "um dia pra vadiaaaar"...
Ela: E você não pode vadiar comigo?
Ele: Pô, Luiza, eu faço isso todo dia.
Ela: Hum...
Ele: E tem outra. Você vai querer ficar deitada tomando sol, ou lendo... e eu vou ficar sozinho, sem nada pra fazer.
Ela: Ué, você não queria vadiar, cacete?
Ele: Vadiar sozinho não tem graça.
Ela: ...
Ele: Queria sentar, tomar uma cervejinha, bater um papo...
Ela (olhando para os pés): Un-hu. Sei.
Ele: Viu só, nem aqui você conversa comigo.
Ela: Pega o algodão pra mim.... claro que converso, amor.
Ele (entregando o algodão): Por que você deixa tudo do meu lado?
Ela: Tá bom. A gente vai amanhã.
Ele: Na praia?
Ela: Un-hu.
Ele: Tá.
Ela: ...
Ele: E quem a gente vai chamar?
Ela: Hein?
Ele: Quem a gente vai convidar?
Ela (soprando as unhas de novo): Pra quê?
Ele (emputecido): Pra ir no prostíbulo chupar tangerina.
Ela: Ahã. Me passa mais algodão, por favor.