25.6.07

Momentum 5

Oito horas da noite. Ele entra correndo no quarto. Ela pendurada no telefone.

Ela: Pois é, mas eu enviei o protocolo com tudo, CNPJ, assinatura, tudo.
Ele (tira uma pilha de papéis deuma gaveta): ...
Ela: Três vias? Como assim "três vias", Malu?
Ele (revirando os papéis): ...
Ela: Cacete, o Oswaldo não me passou os nomes deste grupo...
Ele (espalha tudo na cama): ...
Ela: ... tô te falando, Malu... isso é marcação... o cara quer é fuder comigo dentro daquela empresa.
Ele: Luiza...
Ela (pegando uma caneta e um bloquinho): Peraí, Malu... César, é linguagem figurada, amor... é só um corno escroto que quer se dar bem no escritório às minhas custas... pronto, Malu, pode me passar os nomes.
Ele: Amor, você o meu certificado de graduação que tava na gaveta?
Ela: Minutinho, amor... hã, Malu... tá... são só essas pessoas. E a quem eu devo encaminhar?
Ele (desiste e sai procurando em todas as gavetas): Cacete, viu...
Ela: Em três vias também? Certo.
Ele (acha o certificado dentro de uma gaveta de cuecas): ...
Ela: Vou te enviar o protocolo por email. Obrigada, Malu. Até amanhã.
Ele (guarda o documento numa pasta e vai saindo): Tchau.
Ela: Ei, César. Onde você vai?
Ele: Trabalhar.
Ela (olha no relógio): A essa hora?
Ele: É, amor. Coisa importante.
Ela: Que horas você chega?
Ele: Sem hora pra voltar, meu bem.
Ela: Putz... eu tô ovulando.
Ele (olha no relógio): A essa hora?
Ela: É, amor. Coisa importante.
Ele: ...
Ela: E aí?
Ele: Porra, você é foda, hein, Luiza.
Ele sai, batendo a porta. Ela liga o computador, acessando sua conta de e-mail.

2.6.07

Trilogia das Bestas: Crise entre Leoa e Zebra

Ela entra no quarto batendo a porta. Ele, sentado na cama, vendo filme e comendo biscoito.
Ele: Epa!
Ela: César.
Ele (olha no calendário do criado-mudo): ...
Ela: ...
Ele: Que foi?
Ela: Você não vai acreditar no que aconte... você tá comendo na cama?
Ele: Hã?
Ela: Você sempre me reprime por comer na cama, mas você pode?
Ele (pausa o filme): Luiza, é diferente, amor. Biscoitos de chocolate não espirra molho de tomate na almofada, e não espalha farofa pra tudo quanto é canto.
Ela: E as embalagens?
Ele (levanta uma tijela): Tão aqui. Direto daqui pro lixo.
Ela: Ah, tá... e as migalhas?
Ele (mostra um mini-aspirador de pó): Sem migalhas.
Ela: Merda!
Ele: ...
Ela: ...
Ele: Mas o que você ia me dizer?
Ela: Eu? Nada.
Ele: Não, você ia me dizer algo sim.
Ela: Quando?
Ele: Agora, você entrou batendo a porta, meio furios...
Ela (emputecendo-se): Putz, César. Você tinha que me lembrar disso, né?
Ele: Mas amor...
Ela: Caralho. Você é fóda, viu, César.
Ele: Mas o que foi que eu fiz?
Ela: Não foi você dessa vez.
Ele: Ah, então eu tô levando esporro de graça. Me sinto bem melhor.
Ela: O Tiago. Você não acredita.
Ele: Que tem ele?
Ela: Ah... "O que tem?"
Ele: É.
Ela: "O que tem ele?"
Ele (olha pra cima, rezando por misericórida): ...
Ela: Ele cismou que... ele vai se casar, César.
Ele (ri): ...
Ela (puta): É engraçado, né?
Ele: Peraí, amor... você tá toda nervosa por causa disso?
Ela: César, ele é uma crian...
Ele: ... Criança, sim. Por isso mesmo, eu lhe pergunto qual o motivo da preocupação? Você acha mesmo que ele vai conseguir atingir tal objetivo?
Ela: César, você é um filho da puta.
Ele (sem entender): ... Peraí. essa foi realmente gratuita.
Ela: Não, foi motivada. Você sempre faz isso. Eu me preocupo pra caralho com o que acontece com a nossa família e você trata tudo com desdém. E no final das contas, tudo se resolve por minha causa e você leva os créditos sob as resoluções dos problemas.
Ele: Isso se chama liderança, amor. Eu aprendi isso na aula de meditação. Ter todas as coisas sob controle. Você precisa revisar os valores que te encaminham para um efeito positivo.
Ela: Ora, enfia esse valores no teu cú... eu já tô de saco cheio de você ser o bonzinho da relação quando, no fundo, sou eu quem vai correr atrás da minha irmã quando ela tenta um aborto natural, sou eu quem vai levar o teu pai pra revisões no oftalmologista por causa de uma possível glaucoma e sou eu, a mesma pessoa, que precisa tirar essa idéia estapafúrdia da cabeça do meu filho.
Ele: Luiza, você está fora de si.
Ela: César, eu tô cansada de ser a "dona vaca psicótica da história".
Ele: Você, realmente, não esqueceu o que aquela mulher disse, não é?
Ela: Você também não... ou pensa que eu não te vi malhando os glúteos naquele aparelho que você comprou pela internet?
Ele: É que eu ainda não entendi o comentário sobre minha bunda.
Ela: Ai...
Ele: Quer dizer que eu sou o que não faz nada e você é a salvadora da pátria... quer saber, Luiza... eu não quero discutir com você hoje. Você está alterada.
Ela: Pára de falar que eu estou alterada. Porque... eu tô mesmo.
Ele: Por causa de uma coisa pequena, meu amor.
Ela: César, esse menino vai cometer uma loucura.
Ele: É o Tiago, Luiza. Lembra que ele queria ser surfista, astronauta, vocalista do Slipknot? Então... é a mesma coisa.
Ela: Não é, César. Ele tá apaixonado. Ele vai querer fazer isso a qualquer custo.
Ele: Com a benção de quem, criatura? Eu lhe pergunto isso. Com a permissão de quem ele vai levar esta história adiante?
Ela: A noiva é a Carol, filha da Selma.
Ele (preocupa-se): ...
Ela: ...
Ele: Você não me diga que...
Ela: Ela já deu a tal benção.
Ele: Vaca ordinária!!
Ela: César, não fala assim. Ela é minha amiga.
Ele: Uma irresponsável. É isso que ela é.
Ela: Ela está pensando no futuro da filha dela.
Ele: Casando-a com um pirralho. Essa menina está grávida por um acaso?
Ela: Não que eu saiba.
Ele: Mesmo assim, eles não têm a nossa benção.
Ela
(senta na cama): ...
Ele: O quê?
Ela: Os pais dele ficaram de vir conhecer a Carol.
Ele: ...
Ela: ...
Ele (senta, tentando consolá-la): Então não há mais nada que você possa fazer, meu bem.
Ela: É... como sempre eu não sirvo pra nada.
Ele: Ai, meu Deus.
Ela: Mas quem sabe eu acerto agora, não é? Afinal, já faz quase seis meses que eu estou tentando ter um filho... e não consigo.
Ele: Luiza...
Ela (dá um tapinha na perna dele): Mas não se preocupa, não, meu bem. Daqui dois anos, eu acho que a gente consegue.
Ele (abraça ela): ...
Ela (secando as lágrimas): ... Desculpa.
Ele: Tá tudo bem.
Ela: ...
Ele (passando a mão no rosto dela): ...
Ela (chorando): Ah...
Ele: Que foi?
Ela: Menstrueeeeiii.
Ele: Ah... tá.