30.9.08

Pingos nos "is" - Parte 1

Ele sai molhado do banheiro. Joga a toalha em cima da cama, abre a gaveta da cômoda procurando uma cueca limpa. Ela entra de repente, de mãos dadas com uma outra pessoa.

Ela: Então é isso, né, César?
Ele (se assusta, pulando pra debaixo da cama): Deus do Céu! O que é isso, pergunto eu. Que susto, Luiza!
Ela: Então é esse o seu segredo? Você e o Ulysses?
Ele (olha para a outra pessoa): ...
Ela: Isso mesmo. A Samuela me contou tudo.
Ele (puto com a outra): Você, hein...
Ela: Não senhor! VOCÊ que HEIN, meu filho.
Ele (cobre as “partes” com o edredom): Eu posso explicar. Não é nada do que você ta pensando, Luiza.
Ela: Nunca é o que eu to pensando, César. Quando será que eu vou estar pensando no que realmente é o que deve ser?
Ele: Hã?
Outra: Hã?
Ela (exaltada): Vo-você não ia explicar, César?
Ele: Calma.
Ela: Calma, nada. Chega de ladainhas. Quero os pingos nos “is”.
Ele: Eu explico. (para a outra) Você também, hein, Samuca?
Ela (truca): Samuca?
Ele (pede seis): É sim! Samuca! Minha assistente e... do Ulysses, também.
Ela: Ai, meu Deus.
Ele: Eu posso falar?
Ela: Sem ladainhas, Cé...
Ele (grita): Eu sei!
Ela: E sem gritar.
Ele (bufa): ...
Ela: Você também precisa se acalmar.
Ele: Tá bom.
Ela: ...
Ele: ...
Ela: Anda!
Ele: Tá!
Outra: Sem ladainhas, hein.
Ele (puto): Cala a boca!
Outra (sorrindo): ...
Ele: Bem, é... é... que... o... na verdade, há muito tempo... é....
Ela (suspira): Senta, Samuela, que o negócio vai ser demorado.
Ele (continua, enrolando-se no edredom): Então... eu meio que percebi...
Outra: Putz, vai demorar mesmo. Vou fazer pipoca. Quer pipoca?
Ela: Quero sim. Obrigada.
Ele (cruza os braços, com cara de besta): ...
Outra (saindo): Com manteiga ou sem?
Ele: Samuca!
Ela: Sem, querida.
Outra: Volto já.
Ele (olhando pra ela): ...
Ela (olha no relógio): Pode continuar.
Ele: Você ta cronometrando?
Ela: Tô.
Ele: Vai ficar me avaliando como se fosse membro de algum júri?
Ela: Ahã. Por isso, sem ladainhas.
Ele: Precisa mesmo de tudo isso, Luiza?
Ela: Cinco minutos, César.
Ele: Cinco?!
Ela: Eu decidi que não iria gastar mais do que cinco minutos em todo o processo.
Ele: Que processo, mulher de Deus?
Ela: Você me conta toda a história. Eu fico puta da vida, afinal você quase destruiu o nosso casamento por um detalhe ridículo, espero eu. Depois eu faço um comentário sobre a sua insensibilidade e o fato de você achar que eu sempre estou dando uma de neurótica e dependente. Você suspira fundo, aí tem aquele momento silencioso demarcado por aqueles “três pontinhos” e, em seguida, você faz um comentário irônico, porém gracioso, sobre a nossa relação. Eu vou dar um sorriso de canto de boca, aquele que você bem conhece. Você vai passar a mão no meu cabelo e eu vou dar um tapinha na sua perna. E, se você entender esse sinal, você vai perceber que eu estou mesmo é louca pra transar com você e esquecer toda essa “baboseira”.
Ele: ...
Ela: ...
Ele: ...
Ela (grita): Agora não é hora de silêncio!
Ele: Certo. Eu tenho cinco minutos, então?
Ela (olha no relógio): Três e meio.
Ele: Tá bom. Eu serei breve. Na verdade, o que está acontecendo é o seguinte...
Ela (ouve um barulho): Espera um pouco!
Ele: O que foi?
Ela (pausa o cronômetro do relógio): A pipoca ficou pronta.