17.12.06

Rapidinha

Ele entra no quarto falando no telefone celular e se depara com ela, vestida de sado-Mamãe-Noel, com um chicote vermelho na mão.

Ele: A oferta foi essa. Os japoneses queriam renegociar, mas... (ele olha pra ela) Eu te ligo mais tarde.
Ela (de salto em cima da cama): Hey Bad boy.
Ele (ri): Luiza, o que é isso?
Ela: Seu presente chegou mais cedo, garanhão.
Ele: Pô, eu nem me lembro se foi isso que eu pedi na minha cartinha.
Ela: Bom... depende muito se você foi um bom menino... (dá uma chicoteada na bunda dele)
Ele: Ai, caralho Luiza, isso dói!
Ela: Dói, é?
Ele: Não dá pra ser sem o chicote?
Ela: Bom, veremos. (abraça ele) Você escovou os dentes todos os dias? Fez a lição de casa? Ajudou sua mamãe?
Ele: Tinha que me fazer visualizar minha mãe nessa hora?
Ela: É, desculpe.
Ele: ...
Ela: Então...
Ele (tira a roupa): Vamo logo pro jingle bell, Noelita!
Ela (ri): ...
Dez minutos depois. Ele deitado fumando um cigarro. Ela deitada, com as pernas pra cima.
Ele: Precisa ficar nessa posição?
Ela: Preciso, eu não quero arriscar nada. Tô ovulando nesse exato momento.
Ele: Extatamente... como você sabe?
Ela: Ah, César. Mulher sabe dessas coisas.
Ele: E funciona esse lance de ficar de ponta cabeça?
Ela: Ajuda o espermatozóide preguiçoso.
Ele: Epa! O meu espermatozóide não é preguiçoso.
Ela: César, apaga esse cigarro. Vai atrapalhar na fecundação.
Ele: Tá bom. Tá bom... Sua mamãe noel louca varrida.
Ela (ri): ...
Ee olha o relógio.
Ele: Ihh, vou ter que trabalhar.
Ela: Já? Mas ainda são meio dia e meia.
Ele (colocando a camisa): Eu sei, mas é que eu tenho reunião com uns japoneses amanhã. O pessoal quer estar bem preparado para isso.
Ela: Japoneses, é?
Ele: É. Coisa importante. E você, não trabalha hoje?
Ela: Tirei folga.
Ele: Folga?
Ela: É.
Ele: Pra quê?
Ela: Para organizar um campanha de uma ONG que ajuda as pesquisa marinhas sobre os peixes elétricos do sul da Patagônia.
Ele: Entendi. Pra transar comigo.
Ela: Exato.
Ele: Eu tô indo. Você vai ficar aí?
Ela: Vou. Eu tenho o dia livre hoje pra ficar com as pernas pro ar.
Ele: Então tá bom... Tchau, marida.
Ela: Tchau, esposo.
Ele sai, mal vestido.
Ela (olhando pra cima): ... Caralho, aquele lustre tá sujo pra caramba.

16.12.06

Mais uma história...

Ele dormindo esticado na cama. Ela chega, com uma mala de viagem.

Ele (acorda): Oi, minha esposa.
Ela: E aí, meu marido?
Ele: Que horas são?
Ela: Duas e meia.
Ele (esfregando os olhos): Pô, Luiza, por que você não ligou? Eu te buscava no aeroporto.
Ela: Não, muito tarde. Peguei um táxi.
Ele: Certo.
Ela (coloca a mala no canto): ...
Ele: E sua irmã? Tá surtada ou doente?
Ela: Eu me convenço de que são apenas surtos.
Ele: E o bebê?
Ela: É... é pequeno ainda. Pra ser sincera eu não vi nada naquela foto do ultrasom.
Ele: Riscos de estrabismo?
Ela: Zero.
Ele: Ei... viu só.
Ele beija ela.
Ele: Tá cansada?
Ela: Um pouco. Por quê?
Ele: Tá meio séria, sei lá.
Ela: ...
Ele: Hein?
Ela(tirando os sapatos): César... eu vim pensando no caminho.
Ele: Vixe, já vi tudo.
Ela: Não, você não viu.
Ele: Ah, tá. Fala.
Ela: Eu... você sabe quando você abomina uma coisa e de repente aquilo que você tanto abomina parece ser tão cheio de graça e tão fácil... sabe, quando a gente pensa que uma coisa pode ser um horror, mas de repente toda a positividade referente a essa coisa se materializa num instante?
Ele (com carinha de conteúdo): Amor... eu acabei de acordar.
Ela: ...
Ele: ...
Ela: Eu quero engravidar.
Ele: Você o quê? Você quer ficar grávida? Grávida de uma criança?
Ela (sem paciência): Não, César. De um hipopótamo.
Ele: Mas... você odeia crianças.
Ela: Não. Eu não odeio.
Ele: Ah, então são ela que te odeiam.
Ela: É, mais ou menos isso.
Ele: ...
Ela: E então?
Ele: Então, o quê? Tem mais coisa?
Ela: Como "mais coisa", César? Quero saber o que você acha?
Ele: De ter um bebê?
Ela: É.
Ele: Acho... legal.
Ela: A médica da minha irmã disse que eu tenho um bom quadril para expulsar... é... como é que fala... soltar, é... cuspir a criança ao mundo?
Ele: Parir?
Ela: Parir, isso.
Ele: Sério mesmo??
Ela: Ou isso, ou a sapata tava me bulinando colocando a mão na minha bunda daquele jeito.
Ele: ...
Ela: Eu quero isso, César.
Ele: O quê? Cuspir uma criança ao mundo?
Ela: É... e depois fazê-la do nosso jeito.
Ele: Tem certeza que podemos fazer isso? Como sabemos se somos bons pais?
Ela: Eu sei lá. E a gente se deve perguntar isso?
Ele: Ué, acho que sim. Não?
Ela: ...
Ele: Caralho, essa conversa vai longe.
Ela: Eu quero terminá-la.
Ele: São quase 3 da manhã.
Ela: Eu quero engravidar, César. Eu quero ter um filho.
Ele (faz piada): Comigo?
Ela (ri): Pode ser. Você até que é bonitinho. Inteligente. Não tem tanta loucura hereditária no histórico.
Ele: ...
Ela (abraça ele): ...
Ele (a beija a testa): Então... deixemos de ser apenas DOIS nesta cama.
Ela: Tem certeza?
Ele: ... Tenho.
Ela: Não tá apavorado?
Ele: Um pouco. (imita ela) Será que ele vai nascer zarolho?
Ela: Bobo. É sério.
Ele: Eu tô um pouquinho nervoso, mas... vai ser... vai dar tudo certo.
Ela: Mas é meio difícil. Tudo vai mudar.
Ele: Deixe mudar. A gente bem que precisa de mudança.
Ela: César eu não tô falando de um móvel, nem de uma TV nova... é um filho.
Ele: Porra, Luiza. Eu já concordei, você quer agora que eu desista?
Ela: Tá bom. Desculpe.
Ele: ...
Ela: ...
Ele (beija a mão dela): Então...
Ela: ...
Ele: Vamo fabricar a parada?
Ela (ri): Ué, não tava com sono?
Ele: Tava com sono pra discutir relação... mas pra outra coisas...
Ela: César, você sempre acha que eu quero discuitr relação, não é? Pois o senhor fique sabendo...
Ele (interrompe): Ah, mamãe vai me colocar de castigo de novo?
Ela (joga um travesseiro nele): Ah, vê se dorme.
Ele a agarra, a deita na cama e beija a barriga dela.
Ela (sorrindo): ...
Ele: É... eu te amo.
Ela apaga a luz do abajur, o abraça e dorme.