24.4.07

Trilogia das Bestas: A Cigarra e a Formiga

Ela sai toda molhada do banheiro. Ele, jogando video-game.

Ela: César.
Ele: Hum.
Ela: Eu tô meio puta.
Ele (fixado na televisão): Por quê, meu amor?
Ela: Ontem, eu tava andando no centro e fui abordada.
Ele: Abordada? Como assim? Por um tarado?
Ela: Não... quero dizer... pelo menos, eu acho que não, porque eu me certifiquei de que ela ficava um tanto longe da minha bunda.
Ele: Hum.
Ela (pensando): Será que ela era tarada?... Isso poderia explicar muita coisa... mas, enfim, amor... a mulher me abordou...
Ele: Peraí, o tarado é mulher?
Ela: Caramba, César. Acabei de falar que não era tarado.
Ele: Não. Você disse que não sabia se era.
Ela: Mas era uma mulher. Ponto. Só uma mulher.
Ele (voltando a atenção para a TV): Hum...
Ela: Dá pra desligar o joguinho?
Ele (pausa o jogo): Ai, caramba... Por que a traveca te abordou?
Ela: Por causa da blog.
Ele: E daí?
Ela: Ela me reconheceu, César! Sem nunca ter me visto na vida. Só pelo meu jeito de falar.
Ele (despausando o jogo): Ah, Luiza. Tenha a santa paciência.
Ela: Santa paciência?? Peraí. Tem mais.
Ele (concentrado na TV): Aiii... caramba, quase capotei na curva.
Ela (nervosa): César.
Ele (grita): Que é? Não acabou ainda?
Ela desliga a televisão.
Ele: ...
Ela: ...
Ele: Sua... vaca.
Ela (alterada): Vaca não, César. Neurótica.
Ele: O quê?
Ela: Neurótica. Ela falou que eu sou neurótica.
Ele: Calma, Luiza.
Ela (gritando): Que "calma" coisa nenhuma, César! A mulher nem me conhece e já vem com uma opinião formada sobre a minha pessoa... e má-formada, ainda por cima...
Ele (descontraído): Ah, amorzinho. Esse é o preço da fama. As pessoas vão acabar falando de você... e cá pra nós, você vai ligar pra opinião de uma "maria-ninguém" que te parou na rua?
Ela: A "Maria-ninguém" falou que você é um bunda fria.
Ele: Eu sou um "o quê"?
Ela: Um bunda fria.
Ele: E que porra é essa?
Ela: Sei lá. Coisa boa não é.
Ele: Sapata filha duma puta, cara.
Ela (quase chorando): Tá vendo só. Eu sou uma neurótica casada com um bunda fria.
Ele: Tem certeza de que ela não é tarada?
Ela: Que diferença isso faz?
Ele: Não entendi o comentário sobre a minha bunda.
Ela: Você tá me escutando, por um acaso??
Ele (liga a TV e reinicia o jogo): Tô, mas já tô cansando.
Ela: César, essa é a imagem que as pessoas estão tendo de mim.
Ele: Que pessoas, Luiza? Quais pessoas, pra começo de conversa?
Ela: Muitas... muitas pessoas que acessam esse blog escroto.
Ele: Aha... faz-me rir, amorzinho. Deve ser tudo família do blogueiro.
Ela: Sei lá. Só sei que eu não pedi esse carma... César, vamo cancelá essa bosta.
Ele (jogando): Cancelar o quê?
Ela: O blog.
Ele: Você tá doida, mulher?
Ela: Aí, até você tá concordando com a sapata tarada.
Ele: Você disse que ela não era tarada.
Ela (gritando): Esquece a mulher, César!
Ele (larga o controle): E você acha que acabar com tudo vai adiantar?
Ela: Eu não quero ser a doida varrida da história.
Ele: E nem eu pedi o posto de bunda fria, meu bem.
Ela: ...
Ele (pega novamente o controle): ...
Ela: César... a gente precisa fazer alguma coisa.
Ele: Ô criatura sem sôssego! Luizaaaa, eu já concordei em ter um filho.
Ela: Você concordou uma ova! Você está fazendo isso porque você me ama.
Ele: ...
Ela: Foi o que você me disse.
Ele: Você tá de TPM, não tá?
Ela: ... Tô quase.
Ele (desliga a TV e levanta): Eu já devia saber desde o começo.
Ela: Peraí, a conversa ainda não acabou... César, aonde você vai?
Ele: Vou tomar um banho pra refrescar as idéias... depois de tanto absurdo...
Ela: Vai sim, vá lá, refrescar... Bunda friiiiaa!
Ele: ...
Ela sai do quarto, batendo a porta.
Ele: Puta qui pariu, como se não bastasse a TPM, ainda tenho que aturar sapata que mexe com a cabeça da psicopata da minha mulher... não é fácil.

MORAL DA HISTÓRIA: Em time que está ganhando, o espeto é de pau... (porque essa história tinha que ter um trocadalho do carilho!)

16.4.07

Jogos Mortais

Ela, sentada na cama, com um notebook no colo. Ele, no chão, concentrado, meditando.

Ela: ...
Ele (de olhos fechados): ...
Ela: César.
Ele: ...
Ela: Amorzinho.
Ele (abre um olho): ...
Ela: Queridããão...
Ele (abre os dois e bufa): ...
Ela: Cacete, César... tô falando com você.
Ele: Que é, queridoooona?
Ela: Vem cá.
Ele: Ah, não vô não.
Ela: Eu preciso de sua ajuda.
Ele: Luiza, eu tô meio do meu exercício.
Ela: Que exercício? Tá parado aí, sentado, faz uns quinze minutos.
Ele: Pois é, esse é o exercício. Relaxar o corpo e trabalhar o espírito.
Ela: Então não é exercício.
Ele: Claro que é.
Ela: Não é, não. Isso é macumba.
Ele: Deixa de piadinha, vá, Luiza.
Ela: Olha só, eu levando esporro do professor... deixa disso, vem cá...
Ele: Não posso. Já disse.
Ela: César, o que custa você largar essa posição de Sherazade um minuto e vir me ajudar?
Ele: Um minuto fora de concentração é um minuto a menos de aspiração. Um minuto fora de minha própria energia, Luiza.
Ela: Ai, César. Vou te contar, viu. Se você não fosse tão fanático pelo Vasco, não bebesse que nem um gambá e não odiasse minha mãe, eu ia achar que tú era viado.
Ele: Epa!
Ela: Você tem uns lances de bichona, cara.
Ele (levanta, coçando o saco): Caralho, viu...
Ela: Isso aê, machoman...
Ele (senta do lado dela): Pra que é que você tanto precisa de minha ajuda?
Ela (apontando pra tela do computador): Olha aqui... depois que o Alladin salva o macaquinho, eu vou pra fase bônus ou continuo pelo mapa da fase 4?
Ele (puto): ...
Ela (sorrindo): Hein, amorzinho?
Ele: Vá pelo mapa.
Ela: Tem certeza?
Ele (faz cara de cú): ...
Ela: Tá certo. Pode voltar lá, princesa. Vai encontrar sua energia.
Ele sai em direção a cozinha, pra tomar uma cerveja.