14.11.06

O Bebê de Rosemeire

Ela chega em casa, cansada. Ele na cama, organizando as contas da casa.

Ele: Olá, minha esposa.
Ela: Oi, meu marido.
Ele (na calculadora): ...
Ela (desanimada): ...
Ele: Como é que foi o curso?
Ela: Ah, nem te conto como foi esse curso.
Ele: Ué, não gostou?
Ela: Não, eu adorei.
Ele: Então...
Ela: Ai, César. Sabe aquela situação em que você deseja perder um dedo pra não estar presenciando?
Ele: Ihh, cacete... o que aconteceu?
Ela: O professor era zarolho!
Ele: Zarolho? Como assim? Vesgo, você quer dizer?
Ela: Não, zarolho mesmo, o que é bem pior do que vesgo. Daí você já pode adivinhar o que aconteceu, né.
Ele: Putz, que merda. Professor estrábico, cachorra no cio e sogra em praia de nudismo são três coisas que deviam ser abolidas do senso comum terrestre.
Ela: Terrestre?
Ele: É... não me atrevo a me envolver com dogmas e me expressar por planos celestiais, não é?
Ela (confusa): Planos celestiais?
Ele: Ou demoníacos. Eu só afirmo isso perante ao espectro da raça humana, que é o que eu conheço. Deus me livre de me debater com uma sogra nua morta ou uma cachorra tarada vinda dos céus.
Ela (percebe toda a ladainha): Em outras palavras...
Ele: ... professor estrábico é uma merda.
Ela: ...
Ele: ... e junto com a cachorra no cio e a sogra na praia naturalista...
Ela: ... são precursores das maiores vergonhas do mundo.
Ele: É, pode-se dizer que sim.
Ela (entra na dele): Não, é sério. É fato. Comprovado pelo Índice de Embaraço e Constrangimento computado através de pesquisas realizadas pela ONU.
Ele (vendo a conta do cartão de crédito): É mesmo?
Ela: Como é que ia saber, César? Você vem me falando de cachorra, sogra pelada e planos celestiais só porque eu falei do meu professor vesgo.
Ele: Estrábico.
Ela: Não. Zarolho, que é pior.
Ele: Você parcelou a compra do abajur?
Ela (muda o tom): Foi sim.
Ele: E vem cá, o que mesmo aconteceu na aula com o zarolho?
Ela: Pô, um professor zarolho, o que poderia ter acontecido?
Ele: Ué, milhares de coisas... e esse valor aqui? $67,80?
Ela: O óculos do seu pai.... pô, César, mas qual a coisa mais óbvia?
Ele: Que coisa mais óbvia? Eu sei lá. Pode ter acontecido um monte de coisas.
Ela: Eu falei pra você adivinhar.
Ele: Ah, Luiza, tô muito ocupado pra adivinhar.
Ela: Ah, esquece essa conversa. Foi uma merda mesmo.
Ele: ...
Ela: ...
Ele: Aqui. $105,40?
Ela: O mocassim da mamãe.
Ele: Sua mãe usa mocassim?
Ela: É, usa. Também tá no TOP das maiores vergonhas mundiais.
Ele: Ué, achei que queria terminar esse assunto.
Ela: O assunto do professor tá terminado. O das vergonhas não.
Ele: Por falar em vergonha e mocassim, sua mãe ligou.
Ela: Ai, que saco. O que ela queria?
Ele: Nada. Ficou falando um monte de coisas que eu não entendia depois disse pra te dizer que ela ligou.
Ela: E as coisas lá em casa? O papai tá melhor da coluna? A minha irmã tá bem?
Ele: Tá. O bebê está ótimo, apesar de tudo.
Ela: Que bebê?
Ele: Sua irmã tá grávida de quatro meses, Luiza.
Ela: Sério?
Ele: Você realmente escuta a sua mãe?
Ela: Quase nunca. Ela vive falando umas coisas que eu não entendo.
Ele: ...
Ela: Por que você disse "ótimo, apesar de tudo"?
Ele: Como?
Ela: Você falou "o bebê está ótimo", deu uma paradinha e depois disse "apesar de tudo".
Ele: Ah, sim. É que a sua irmã entrou no estado Alfa ao Ducentésimo Cosmo Universal.
Ela: Isso tem a ver com aquele seu assunto de planos celestiais?
Ele: Não.
Ela: O que isso quer dizer, então?
Ele: Quer dizer que a última depressão dela superou as outras cinco. Ela agora acha que carrega o fruto de uma entidade celestial em seu ventre.
Ela: No meu ventre?
Ele: Não, Luiza. No ventre dela.
Ela: Como assim? "Tipo" ela tá grávida de Deus?
Ele (ri): "Tipo" que eu também não entendo as loucuras da sua irmã.
Ela: E o que tem a saúde do bebê tem a ver com isso?
Ele: É que... ela tentou um aborto natural.
Ela: "Tentou" um aborto natural???
Ele: De novo! Eu não entendo as loucu...
Ela: Tá. E o bebê?
Ele: Tá bem. Mas o médico disse que se tal fato voltar a acontecer, me parece que a criança pode sofrer algum dano físico.
Ela: É mesmo, é?
Ele: Foi o que eu entendi.
Ela: Ai, César. Será que ele vai nascer com estrabismo?
Ele: Por se tratar de ser uma cria da sua irmã, uma criança com estrabismo seria a menor das minhas preocupações.
Ela: Ai, César. Eu vou ter quer que ir até lá.
Ele: Tá bom. Você quer ir mesmo?
Ela: Un-hu.
Ele: Então no fim-de-semana, a gente ...
Ela: Não, eu quero ir agora.
Ele: Luiza, são onze e meia da noite.
Ela: César, eu preciso salvar meu sobrinho.
Ele: De quem? Da mãe dele?
Ela: Exato.
Ele: Luiza, você vai quereu dirigir até São Paulo, a essa hora da noite?
Ela: Vou de ônibus.
Ele: Porra, Luiza.
Ela: Porra, César. Meu sobrinho vai nascer zarolho, caralho!

4 comments:

Anonymous said...

Giu! Luíza e César se superam, mais uma vez, né.

Esse entraria na minha seleção. Não que a minha seleção tenha qualquer importância para vocês! hahahaha

Beijooo

Anonymous said...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAdorei!
Nunca tinha entrado, por falta de tempo...ou por preguiça msm, confesso! Mas agora sempre que puder vou dar uma zoiadinha.
Bjoooooooo

Anonymous said...

caralho. esse foi de longe o diálogo mais porra louca que ue já vi! auauhuha! mtu bom mlk!

fikei até estrábico.
não, não. fiquei até zarolho (que é pior)! uahua bjuw

SAKE

Anonymous said...

é meu camaradinha realmente esse foi um dos melhores até agora,notando até semelhança em alguns fatos.

vc tá de parabens, a cada estória que leio sinto mais orgulho de vc e lógico muita risada.

o nenê só faltou ter olho azul

rsrsrsrsrsrsrsrsrsr

um grande abraço.

Luciano