14.9.07

Amante Latindo

Ela chega em casa. TV no volume alto. Ele sai do banheiro sem camisa.

Ela: Oi, esposo.
Ele: Luiza. Resolvi. Chega!
Ela: O que é agora?
Ele (joga o barbeador elétrico no chão): Eu não vou mais me barbear com essa porcaria.
Ela (desliga a TV): Por quê?
Ele: Por quê?... Olha isso aqui!
Ela (vê um arranhão no nariz dele): ...
Ele: Viu?
Ela: Vi... Você tem certeza que você sabe usar esse aparelho?
Ele (irônico): Não, benzinho. Eu entrei na puberdade faz duas horas.
Ela: Ótimo, meu garotão. Porque, ó... se segura que eu tô ovulando... aliás, ME segura que eu vou tirar teu cabaço...
Ele: Putz, de novo? Quantas vezes você ovula por mês?
Ela: Umas cinco.
Ele: Engraçadinha.
Ela: Você já tomou banho?
Ele: Tava indo ainda agorinha.
Ela: Então, vai logo... não, não vai, não... vamos fazer o que a gente tem que fazer depois você lava tudo.
Ele (passando metiolate no nariz): Você é mesmo muito romântica, sabia?
Ela (tirando a roupa): Não temos tempo pra romantismo.
Ele: Luiza, me ajuda aqui.
Ela: César, deixa disso. Vem, pra cama, vem.
Ele: Ô mulher, eu tô com o nariz sangrando.
Ela: Coloca um band-aid aí e pronto!
Ele (olhando o ferimento no espelho): Mas foi um corte fundo... ó... putz, tô até com medo de ficar com uma narina só.
Ela: Ai, meu Deus.
Ele: E ainda o barbeador tá quebrado.
Ela: Você nem se barbeou ainda.
Ele: Claro que não. Quando tentei, fui quase assassinado.
Ela: Não tem importância. Vem assim mesmo. Vai ser uma coisa rápida.
Ele (liga a televisão): Uma coisa rápida, sem importância. Meu Deus como o pai é uma figura presente desde a concepção.
Ela: César, eu tô cansada. Porque EU trabalhei o dia inteiro, ao contrário de outra pessoa que ficou vendo televisão o dia inteiro e quebrando eletrônicos.
Ele: Eu sabia que você mais cedo ou mais tarde você iria insinuar algo a respeito...
Ela: Que insinuação? A respeito do quê?
Ele: Eu e o meu desemprego.
Ela: Não é isso, amor. Só... que... só estou pedindo para irmos logo com isso porque eu ainda tenho que voltar pro escritório.
Ele: Ainda?
Ela: Pois é... agora, mais do que nunca, eu preciso daquela promoção.
Ele (colocando o barbeador na embalagem): ...
Ela: Vem pra cama, amor...
Ele: Não, espera. Eu vou ter que descer pra comprar lâmina de barbear. E devolver esse aparelho falsificado.
Ela: Ah, você não pode estar falando sério?
Ele: Eu estou. Indignado como consumidor. Eu não posso pagar por uma coisa que funcione mal, principalmente agora... você fazendo serão e eu gastando dinheiro em porcarias...
Ela (interrompe): César, deixa disso, pelo amor de Deus!
Ele: Luiza, você não quer um homem bonito, cheiroso, de barba feita, carinhoso e atencioso na sua cama?
Ela: Vai à farmácia ou vai virar bichinha?
Ele (desiste): Sério mesmo?
Ela: Sério. Tá bom assim. Fedido, nojento, canalha...
Ele (pula em cima em cima dela): Eis a futura mãe dos meus filhos!
Ela: Sem pingar sangue em mim, hein...
Ele: Peraí, pega aquele esparadrapo ali pra mim.
Ela (lhe faz o curativo): Acho que vai aguentar por cinco minutos...
Ele: Cinco minutos?
Ela: É o tempo que eu preciso... e o que você aguenta...
Ele (desafia): Ah, é... paga pra ver?
Ela: Ah, eu pago.
Ele (beija o pescoço dela): ...
Ela: César!
Ele: Hã?
Ela: Peraí... essa sua barba mal-feita tá me pinicando... Melhor eu ficar em cima e você não me beijar tanto.
Ele (muda de posição): ...
Ela: Agora sim... agora, beija só meu rosto tá... meu pescoço fica vermelho e eu não posso aparecer assim na reunião.
Ele: E os peitos eu posso beijar?
Ela: Hum... pode... eu não vou trabalhar de decote mesmo.
Ele: ...
Ela: O que foi?
Ele: Nada... tava só pensando no quanto você é iressistível.
Ela (se jogando em cima dele): Bora trabalhar então.
Ele (assistindo TV, enquanto ela tira as cuecas dele): Ai, ai.... ter filhos é uma coisa tão saudável.

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