6.11.07

Assincronia - Parte 1

Noite de quarta-feira, ele chega do treino. Ela, com cara séria, meio chorosa.

Ele: Oi, marida.
Ela: Oi... meu esposo.
Ele (joga a chuteiras num canto): ...
Ela (olhando pra ele): ...
Ele (percebe): Tudo bem?
Ela: Ta.
Ele (beija-lhe o rosto): Linda.
Ela: César...
Ele: Oi, meu amor...
Ela: ... onde você ta indo?
Ele: Ué, tomar banho. Você odeia que eu deite na cama depois de chegar do treino.
Ela: ...
Ele: Tá tudo bem mesmo?
Ela: César, eu preciso lhe falar uma coisa.
Ele: Você ta grávida? Eu não acredito. A gente conseguiu?
Ela: Não. Não é nada disso. Eu estou tão oca quanto o seu pinto.
Ele: Valeu pelo apoio moral, hein.
Ela: Eu realmente não quero discutir isso agora.
Ele: Ta legal.
Ela: Senta aqui.
Ele: Eu?! Sentar aí? Na cama? Todo fedido e suado?
Ela (com os olhos lacrimejando): César, por favor.
Ele: É sério assim, é?
Ela: ...
Ele (senta): ...
Ela: Eu vou ser breve. Até para poder ouvir o que você tem a dizer logo.
Ele: Amor, o que ta acontecendo?
Ela: Eu levei o seu terno na lavanderia e encontrei esse números de telefone anotados num papel.
Ele (fecha a cara): Você encontrou isso?
Ela: Não, foi o pessoal da lavanderia.
Ele: Ah, certo.
Ela (sem entender a pergunta dele): ... Então... eu liguei... liguei para este número aqui...
Ele: Você ligou?
Ela (mais alto): Liguei!
Ele: Hum...
Ela: E uma mulher me atendeu e disse que era sua cliente.
Ele: ...
Ela: E depois eu fui ver sua agenda...
Ele: Luiza, você...
Ela (folheando a agenda dele): ... E vi uma lista de nomes, na letra C, a maioria nomes de mulheres.
Ele: Luiza...
Ela: César, eu não vou julgá-lo precipitadamente. Não sei quem são essas mulheres e muito menos o que você anda fazendo com elas.
Ele: Amor, não é nada disso que você está pensando.
Ela (meio que grita): Como é que você sabe o que eu estou pensando?
Ele: Com esse tom de acusação, depois de todo esse relatório investigativo, não fica difícil imaginar, não é?
Ela: Eu só quero uma explicação, César.
Ele: Ta... eu sei.
Ela: Então, pronto.
Ele: ...
Ela: Então?
Ele (faz uma cara de quem já está arrependido): ...
Ela: Ce-sar.
Ele: Eu não posso te explicar, amor. Não agora.
Ela: Como assim “não pode”? Eu sou sua mulher. Você me deve esclarecimentos diante de fatos que colocam o nosso casamento em risco.
Ele: Mas não há nada para se preocupar.
Ela: César, eu não acredito que...
Ele: Amor, você não confia em mim?
Ela: ...
Ele: Tá demorando pra responder.
Ela: Confio.
Ele: Então acredite quando eu digo que isso não é nada.
Ela: Nisso... eu não acredito.
Ele: Cacete, viu.
Ela: Eu preciso ir.
Ele: Aonde você vai?
Ela: Vou sair com o Tico. Ver a roupa dele pro casamento.
Ele: Ué, por que você não me disse isso? Eu teria vindo mais cedo pra ir com vocês também.
Ela (colocando a bolsa no ombro): Acho que você não é o único que tem segredos por aqui.
Ele: Luiza, não exagera.
Ela: Você esquenta a lasanha que tá no forno?
Ele (ri): Não faz cena, amor.
Ela: Se preferir, três minutos no microondas... ou até derreter o queijo.
Ele: Eu sei ler a caixinha, amor.
Ela (olha com ódio pra ele): Que bom que você sabe ler a caixinha, César.
Ele: Luiza, eu tô brincando.
Ela (grita): Dá pra parar um segundo e ver que isso não é piada.
Ele (fica sério): Amor, eu preciso que você confie em mim.
Ela (ri): ...
Ele: ...
Ela: Ah, desculpe pensei que fosse outra piada.
Ele: Luiza...
Ela (grita de novo): César!
Ele: ...
Ela: Eu não volto logo.
Ela sai, batendo a porta.

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