16.4.08

Assincronia - Parte 2


Ela com a amiga, conversando e tomando champagne. Três horas da tarde.

Ela: Ah, eu saí mesmo... não pude recusar esse "convite"!
Outra: ... saiu, é?
Ela: E foi ótimo.
Outra: Tem certeza?
Ela: Você acha que fui com "muita sede ao pote", Selma?
Outra: E o que o César vai fazer quando souber disso?
Ela: Dane-se o que o César pensa ou deixa de pensar. Enquanto ele estiver saindo com as "clientes" dele, marcando horário e tudo mais, eu faço o que eu bem entendo da minha vida. Deixe ele com as vadiazinhas lá.
Outra: Luiza, eu realmente acho que o seu marido é um bundão...
Ela: Um bunda fria...
Outra: ... mas... Luiza, eu também acho que ele não seria capaz de te trair.
Ela: Sabe que eu não entendo vocês dois. Vocês se odeiam mas quando eu tô puta da vida com vocês, um acaba defendendo o outro.
Outra: Eu apenas estou lhe apontando a verdade nua e crua.
Ela: Nua e crua? Péla-saco!
Outra: Acho que todo esse show de ciúme baseia-se em toda a história que aconteceu com o seu supervisor.
Ela: Mas já acabou, Selma. Eu não ia agüentar uma situação dessas por muito tempo.
Outra: E a jóia que ele te deu?
Ela: Eu falei que queria devolver, mas ele disse que aquilo não era nada comparada aos meus serviços oferecidos.
Outra: Que cara-de-pau!
Ela: Pois é.
Outra: Deixa na casa dele.
Ela: Selma, o homem é casado. Posso até arruinar a família dele com esse capricho.
Outra: Então, dê a jóia pra mim.
Ela: Não posso. Assim ele vai pensar que eu aceitei e que ainda quero que permaneça algum vínculo entre nós.
Outra: Ah, Luiza, eu adoraria esse vínculo no meu pescoço.
Ela: Peça a seu marido.
Outra: Ih, o Ulysses. Mão-de-vaca como é.
Ela (se olhando no espelho com o colar no pescoço): Não é uma peça muito cara, Selma.
Outra: Mesmo assim... Ah, me dá o telefone dele.
Ela (ri): Ai, Selma. Ele é casado, já disse.
Outra: Ah, mas eu preciso ser valorizada. Acha que só você pode ter seus dias de glória.
Ela: Dia de terror! E não brinque com isso. O Ulysses é um homem tão bom.
Outra: É... pode ser.
Ela: ...
Outra: Mas... e agora? De verdade, mesmo... o que você vai fazer?
Ela: Não sei... bom vou ter que procurar outro, né...
Outra: Você tem outro em vista?
Ela: Mais ou menos. Marquei um encontro neste restaurante amanhã.
Outra (vendo o cartão entregue pela amiga): Chique, hein.
Ela: Muito chique.
Outra: Pode ser que você se dê bem.
Ela: Ah, mas é claro que eu vou me dar bem. Sou uma mulher muito competente.
Outra (rindo): Você é impossível, Lú.
Ela (ri): ...
Outra: Mas eu acho que você devia desistir dessa história.
Ela: Que história? Do jantar neste restaurante maravilhoso?
Outra: Do jantar e das consequências deste jantar.
Ela: Não dá, Selma. Eu preciso. O César não dá mais conta. E apesar de tudo, eu preciso disso para me manter na ativa.
Outra: Mas pense no bebê, amiga! E o bebê que está por vir?
Ela: Ai, tô cansada de pensar nesse bebê.
Outra: ...
Ela: Quer saber? Eu vou ficar com a jóia.
Outra: Vai, é?
Ela: Vou.
Outra: Sério mesmo?
Ela: Ahã.
Outra: E se o César perguntar de onde você tirou isso?
Ela: Eu digo a verdade...
Outra (impressionada): É?
Ela (enchendo as taças): ... omitindo alguns fatos.
Outra: Ah, tá.
Ela: Brindemos?
Outra (levanta a taça): A quê?
Ela: A Nova Luiza!
Outra: Versão independente?
Ela: Isso mesmo.
Ela toma tudo num gole só, dando um mini-arroto no final.

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